Guapé de retrato Guapé de retrato na parede à promissor pólo turísticoGuape Lentamente se recupera do forte impacto sócio econômico e cultural que o atingiu quando da inundação de cerca de206km quadrados do seu município e de aproximadamente 2/3 da cidade para a criação do grande reservatório da Usina Hidrelétrica de Furnas.Em meados dos anos 50, no governo do Presidente Juscelino kubitschek foi anunciada a criação da Usina Hidrelétrica de Furnas. O Brasil crescia a largos passos e precisaria de mais energia para continuar crescendo. Em Guapé a situação era desoladora, a economia da cidade era essencialmente agropecuária e 206km² de suas terras fertéis seriam inundadas como num diluvio. Com o anuncio da criação da Hidrelétrica de Furnas, anunciou-se tambem para os guapeenses a sentença de morte de sua “pequena cidade” Guapé.Sem que nenhum critério de impacto ambiental e social fosse considerado a população da cidade foi relegada a um total descaso . Hoje vemos algo parecido com as populações indígenas atingidas pela construção de Bello Monte.A criação de uma nova cidade como compensação com água encanada, onde mais nenhum guapeense tomaria “banho de cuia” foi feita com o maior descaso. Contrariando princípios elementares do urbanismo perdeu-se a oportunidade de projetar o marco da nova cidade em um local plano, com uma visão topográfica privilegiada de toda a região e do futuro lago. Simplesmente porque, precisavam de um campo de aviação.Em uma tentativa de substituir as residências inundadas, construíram-se casinhas standardzadas de baixíssima qualidade que, de forma nenhuma, compensaria as antigas moradias inundadas.O prejuízo social ainda é imensurável, o êxodo foi enorme, guapeenses que deixaram a cidade antes da inundação perderam a referência e não encontraram na nova cidade identificação com sua terra natal .Para aqueles que ficaram e assistiram a cidade aos poucos sendo destruída, as árvores sendo arrancadas, a cidade aos poucos se afogando e o reles consolo de uma nova cidade inacabada, construida a toque de caixa sem nenhum cuidado, sem carinho, a dor não foi menor.A lembrança da melancólica torre da igreja ilhada em meio ao lago, num ultimo lamento era como uma lapide.Para a geração que cresceu nesta cidade desesperançada, que só conheceu a antiga Guapé através dos poucos retratos que restaram, ficou a confirmação anunciada pelo jornalista da revista O Cruzeiro que, plagiando Carlos Drumont de Andrade, publicou na época da inundação a reportagem com o titulo "Guapé, será apenas um retrato na parede".No entanto , para os que resistiram a esperança aos poucos começou a renascer como a confirmar o lema, Fluctuat ne Mergitur (flutuar sempre, afundar nunca) que o Senador Passos Maia buscou na armada inglesa para o brasão da cidade muito antes de se cogitar a construção da usina.Após quase 50 anos de letargia, a cidade renasce das águas, águas essas que agora não mais a afoga e sim é o grande pulmão de um futuro e promissor pólo turístico de Minas Gerais.Passos Maia, como um visionário já em 1930, reconhecia o grande potencial turístico da cidade encerrando o ultimo capitulo de seu livro: Guapé reminiscências Edições Poncetti-1933, fazendo um convite aos turistas o qual transcrevo abaixo na sua integra.“Neste recanto que dois rios constringem nessa mesopotâmia que é o nosso vilarejo de Guapé vive um povo que trabalha e crê como num oásis de verdura e de eternos dias primaveris. Temos luz elétrica superior, água potável de primeira qualidade, um clima adorável, alvoradas soberbas, crepúsculos indescritíveis, panoramas infindos, fartura, casas confortáveis, boas ruas, uma concórdia deliciosa.Se a felicidade consiste na aurea mediocridade, de que fala o romano, vive-se aqui em plena beatitude, longe do bulício do mundo e das glorias vãns, como reza o Eclesiastes.Vinde Cariocas elegantes, Paulistas altivos, descansar nessa península encantada, onde o sabia canta nos laranjais em flor e o azul do firmamento lembra uma nesga da Cote d’Azur! Vinde não envelheçam aos 50 anos sem terem gozado uma semana de férias, Há aqui lindos trechos para villas e casas de campo.Vinde gozar deste clima ideal, onde nunca houve um caso de febre de origem epidêmica. Aqui não se sofrem calores insuportáveis nem frios excessivos, e as noites são deliciosas, sem rumores estranhos a não ser alguma serenata de menestréis aldeões, em melodias apaixonadas.Dois dias de estrada de ferro, um dia de viagem fluvial em rios de margens maravilhosas alguns minutos de automóvel, e hei-vos nesta estância de paz e de harmonia, onde um povo gentil e hospitaleiro vos acolhera de braços abertos. Dentro em pouco voltareis remoçados, alegres e contentes, amando cada vez mais essa Minas acariciadora, meiga, salutar e boa, que Deus pos em cima das montanhas para ficar mais perto do Céu”.Por Gastão Coutinho Junior/Especialista em desenvolvimento sustentável urbano
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